domingo, 19 de maio de 2013

O Pranto de Maria Parda - Gil Vicente



Escrito por Gil Vicente em 1522, "O Pranto de Maria Parda" é uma tragicomédia que retrata o reino em decadência caracterizado pela fome, seca, abandono das terras pelos camponeses e o êxodo para a cidade e mar, resultando na morte de muitos durante a sua caminhada. Lisboa era uma cidade mulata, cheia de gente vinda da Guiné. Maria Parda personaliza a escrava negra que sucumbe ao álcool e que se consola com mais uma "litrada".

O Pranto de Maria Parda é uma das mais célebres peças de Gil Vicente. Intencionalmente, o grande dramaturgo, retratou a realidade das classes pobres de Lisboa, no Século XVI. Contrariando os discursos que enalteciam e louvavam a beleza e opulência da capital de um imenso império, Gil Vicente procura desvelar a vivência dos negros e mestiços chegados e nascidos na metrópole que, em Quinhentos, calcula-se que perfaziam 10% da população de Lisboa. Muitos eram alcoólatras, mal cristianizados, deprimidos pela subvida serviçal e sem perspectivas de futuro a que estavam votados. Vêm-se carnalizados na figura literária de Maria, arguta e corrosiva observadora da sociedade, amante do vinho carrascão. Podemos imaginar apenas o impacto que o monólogo terá tido na corte e junto do monarca; quando se viu defronte de atrevida mestiça, da base da pirâmide social, para mais mulher, mais a mais sexualmente livre, assumir, entre canadas de vinho, uma das mais lúcidas e desesperançadas críticas à sociedade dos "fumos da Índia".

Este monólogo de Gil Vicente é uma “lamentação” posta na boca de uma velha mulata bêbada (“parda” vem da tez negra da sua pele). Escrito em 1522, ano de terrível fome no reino, o monólogo foi muito popular e teve numerosas reedições. O desespero de Maria é cómico, o seu testemunho burlesco. Faz rir e isso é uma maneira de exorcizar o drama da fome. “O Pranto de Maria Parda” é uma paródia, no estilo da chocarrice popular, em que se esconjura e elimina o sofrimento e a morte através do humor.

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